terça-feira, 26 de março de 2013

O verdadeiro valor do desporto

Carla Nascimento* em: www.asortedo13.blogspot.pt
O artigo desta semana é sobre algo que me preocupa: a falta de vontade dos miúdos hoje em dia para se entregarem a algo que valha a pena. Independentemente de saber que é um problema geral, eu falo do ponto de vista do desporto e, obviamente, no caso particular do basquetebol. No meu tempo, queríamos treinar todas as horas possíveis. Hoje, os miúdos acham que treinar uma hora e meia já é mais do que suficiente e, muitas vezes, até chega a ser chato. Se lhes exigem muito, não estão dispostos a esforçar-se para provar que são capazes e muitas vezes desistem. Se podem estar sentados no computador para que é que se vão chatear com o desporto? Há uma falta de compromisso enorme e os miúdos não estão dispostos a abdicar de nada por causa de um treino. O caso mais gritante que conheço até hoje passou-se quando eu era treinadora de uma equipa de cadetes. Uma das miúdas disse-me que teria de sair no intervalo do jogo, porque tinha uma festa de aniversário. Fiquei em choque! Nem sabia como é que aquilo lhe podia passar pela cabeça. Reuni todas as minhas forças e paciência para lhe explicar o porquê de ela ter de ficar até ao fim do jogo. Há também um receio inexplicável para treinar com as equipas do escalão acima. O objectivo não é pôr a descoberto as debilidades de ninguém. Os erros e as dificuldades iniciais são normais. Mas se atirarmos o receio e os medos para trás das costas, rapidamente vamos perceber que estar um nível acima nos leva a estar num patamar superior. Só com problemas novos podemos evoluir mais. Acredito que o trabalho e o empenho nos levam muito longe, seja no que for. No caso particular do basquetebol feminino, com algum talento e esforçando-nos um pouco mais do que a média já marcamos a diferença. Portanto, acredito também que as recompensas serão proporcionais ao quanto nós estivermos dispostas a dar pelo desporto.

Posto isto, o artigo desta semana diz assim:

Crescer no desporto
“Acordar, vestir roupa confortável e sair a correr para a escola. Durante as aulas fazíamos as equipas. Passávamos todos os intervalos a jogar basquetebol. Mas não acabava aí. Ao fim da tarde, treino e, com sorte, outro treino com as mais velhas. Aos fins-de-semana dois e, por vezes, três jogos. Passar 24 horas com a bola na mão era tudo o que mais queríamos. 
Quando éramos pequenos não se falava tanto da dificuldade em conciliar os estudos com o basquetebol. Um teste no dia seguinte não era uma desculpa aceitável para faltar ao treino. Havia um compromisso total com a equipa que nos fazia organizar o tempo o melhor possível e definir bem as prioridades. 
Treinar em dois escalões não era um problema, era um prémio. Eras um sortudo se alguém achasse que tinhas potencial para trabalhar no escalão acima do teu. Poder treinar com jogadores mais velhos, mais fortes e mais experientes supunha ter de ultrapassar outro tipo de dificuldades. A superação dessas dificuldades conduzia à evolução. 
Significava a oportunidade de assumir e falhar vezes sem conta, que era o que nos levaria ao êxito algum dia. Entendíamos que cada segundo que investíamos no pavilhão ia fazer de nós melhores jogadores e que só o trabalho, o esforço e a dedicação seriam recompensados com o tempo. 
Se não podíamos estudar? Se só tínhamos tempo para o basquetebol? Quem pensasse isso estava muito enganado. Havia tempo para tudo: jogar, estudar, estar com os amigos, jantares… Isso sim, cada coisa no momento certo. 
Hoje as coisas são diferentes. Seja porque os miúdos têm dificuldade em comprometer-se, porque os pais castigam os maus resultados escolares tirando aquilo que lhes “faz perder tempo”, o basquetebol. Ou porque a sociedade é muito mais tolerante com as novas tecnologias e redes sociais. Uma sociedade em que as coisas se conseguem sem esforço e, se o exigem, há sempre uma “boa” desculpa para abandonar. 
Depois de muito trabalho e sacrifício, posso garantir-vos que se uma pessoa se dispõe a esforçar-se, a dedicar o seu tempo e vontade para alcançar metas terá a sua recompensa. Nem toda a gente será atleta profissional, se calhar nem amador, mas de certeza que todas as pessoas que adquiram valores e ensinamentos com o desporto estarão mais preparadas para a vida e para conseguir chegar às metas propostas no seu dia-a-dia.”
*Carla Nascimento joga em Espanha no CB Al-Qazeres, Liga Feminina 2A